PROFESSOR DO PROEJA: MAIS QUE PROFESSOR
Nadna Palmiere de Araujo[1]
Valdeir Dias Martins[2]
Valéria Ribeiro de Souza[3]
RESUMO: Este artigo apresenta uma
reflexão sobre a formação dos professores que atuam no Programa
Nacional de Integração da Educação Profissional e Tecnológica
com a Educação Básica, na Modalidade de Educação de Jovens e
Adultos – PROEJA, o qual foi instituído no ano de 2006 e
implantado em todas as instituições federais de educação
profissional e tecnológica do país, isto de forma obrigatória.
Diante da inexperiência de educadores e de escolas que se propõem a
atender esta nova modalidade de ensino, muitos problemas surgem como
a falta de preparo de alguns docentes para lidar com alunos
desta modalidade, no sentido de adequar as metodologias de ensino e o
currículo escolar, considerando-se as especificidades de alunos
jovens e adultos. Nesse sentido, objetiva-se refletir sobre a
formação e atuação do professor do PROEJA, visando buscar
caminhos que possam auxiliar os educadores que atuam nessa modalidade
de ensino. A abordagem metodológica é a qualitativa, de cunho
bibliográfico, buscando sustentação em autores que tratam da
formação continuada de educadores como Freire (1998),
Gauthier (1991), Oliveira (1999), Paiva (2002), Tardif (2007),
Valentim (2008), VEIGA (1995), entre outros.
PALAVRAS-CHAVE: Programa. Formação.
Docência.
ABSTRACT: This article presents a
reflection on the formation of the professors who act in the National
Program of Integration of the Professional and Technological
Education with the Basic Education in the Modality of Adult Young
Education of e - PROEJA, instituted in the year of 2006 and implanted
in all the federal institutions of professional and technological
education of the country, of obligator form. Ahead of the
inexperience of educators and schools with this new modality of
education, many problems had appeared, as the lack of preparation of
the professors to deal with this new pupil, methodologies, etc. In
this direction, if it intended to reflect the formation teaching
aiming at to search ways that can assist these educators who act in
this modality of education. The used investigative boarding was the
bibliographical research, searching sustentation in authors who deal
with the teaching formation and other scholars.
KEY-WORD: Scheme. Formation. Professors.
1. Introdução
Objetiva-se, neste artigo, apresentar uma reflexão
sobre a formação dos professores que atuam no Programa Nacional de
Integração da Educação Profissional e Tecnológica com a Educação
Básica, na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos – PROEJA,
o qual foi instituído no ano de 2006 e implantado em todas as
instituições federais de educação profissional e tecnológica do
país, isto de forma obrigatória.
O PROEJA é um programa direcionado ao atendimento
escolar de alunos socialmente excluídos, por isso,
integrante das políticas sociais de reparo à forma histórica
casuística com que as políticas públicas direcionaram a Educação
de Jovens e Adultos no Brasil; com ênfase também para a
formação de educadores que atuam na modalidade de Educação de
Jovens e Adultos (doravante EJA).
A abordagem metodológica é de cunho investigativo
que pauta-se na pesquisa bibliográfica, buscando sustentação em
documentos oficiais e autores como Freire (1998), Gauthier (1991),
Oliveira (1999), Paiva (2002), Tardif (2007), Valentim (2008),
VEIGA (1995), entre outros.
2. Exclusão Social de Jovens e Adultos
No Brasil a forma histórica casuística com que
os governos trataram a Educação de Jovens e Adultos (EJA) produziu
a situação de marginalidade em que vive grande parte da população
brasileira que não concluiu nem o ensino fundamental. As
consequências são inúmeras, pois muitos jovens e adultos foram
excluídos do sistema formal de ensino, muitas vezes, por
encontrarem-se em condições de vida precária, provavelmente, por
não ter tido condições de permanecer na escola por precisarem
optar pelo trabalho para sustentar suas famílias ou por outros
fatores a serem investigados.
Um dos aspectos que muito tem contribuído para o
quadro negativo da EJA no Brasil é a formação deficitária de
grande parte de educadores que assumem o trabalho nesta modalidade,
por isso, necessitam receber uma formação especial que lhes
permitam compreender os anseios e as necessidades de aprendizagem de
alunos que esperam recuperar o seu tempo de estudo, já que a
sociedade cobra cada vem mais o domínio do conhecimento formal ou
seja escolarizado.
Existem várias pesquisas sobre a formação do
professor de jovens e adultos, as quais sugerem que o educador deve
ter consciência de sua importância para contribuir com o
desenvolvimento cognitivo dos educandos de forma a respeitar os
conhecimentos que esses já trazem de suas vivencias para poder
relacioná-los às novas aprendizagens. Desta maneira, educador e
educando reúnem marcas identitárias semelhantes e ao mesmo tempo
singulares, que somadas obtém resultados altamente positivos na
formação do indivíduo. Nessa perspectiva Gadotti afirma que:
Os educadores, numa visão emancipadora, não só
transformam a informação em conhecimento e em consciência crítica,
mas também formam pessoas. Eles fazem fluir o saber (não o dado, a
informação e o puro conhecimento), porque constroem sentido
para a vida das pessoas e para a humanidade e buscam, juntos, um
mundo mais justo, mas produtivo e mais saudável para todos. Por isso
eles são imprescindíveis (GADOTTI, 2000, p. 09).
São poucas as discussões em torno da formação do
professor para o PROEJA[4],
pois este é um programa novo e as instituições da rede federal de
ensino em seus cem (100) anos de história jamais ofertaram essa
modalidade de ensino. Consequentemente, essa insipiência do
programa e a falta de experiência de escolas e educadores federais
podem comprometer a formação dos educandos jovens e adultos, pois
lidar com os mesmos da mesma forma com que desenvolvemos o ensino
regular significa um retrocesso que causa novos traumas educacionais
nos alunos da EJA. Passar conteúdos apenas é muito pouco, é
preciso também estimular para a reflexão, para a crítica e para o
aprendizado mais amplo.
AsO programa do governo federal deixa clara a
intenção de quitar com a dívida histórica com jovens e adultos
excluídos das escolas em idade normal. No entanto, a rapidez com que
o programa foi instituído e implantado pode de fato comprometer seus
propósitos, conforme revelam alguns depoimentos da coordenação
pedagógica do IF MT- Campus Cáceres e também por parte de alguns
professores que participaram do curso de especialização do PROEJA.
Estes educadores temem que os problemas aconteçam devido à
forma como foi engendrado o programa, devido à falta de preparo da
própria escola, dos docentes, enfim da comunidade e por outros
fatores.
O grande número de alunos evadidos das instituições
federais escolares que estão oferecendo o PROEJA já é de
conhecimento do MEC e da sociedade, fator que preocupa a todos, pois
um programa recém implantado que tem a clara intenção de inserir
uma parcela significativa da população excluída pelo sistema
escolar e pela sociedade, mesmo com a implantação tão recente já
demonstra falhas gritantes, que hipoteticamente recai sobre aspectos
relacionados ao ensino e aprendizagem, a falta de melhor
acompanhamento desse novo aluno no meio escolar, sobre questões
financeiras, falta de estímulo de docentes e alunos etc.
A evasão é uma das questões que mais tem
incomodado o governo e as instituições federais, pois acena para a
ausência de uma melhor preparação dos professores que atuam nessa
nova modalidade de ensino, mais especificamente na preparação de
planejamento, desenvolvimento de atividades que correspondam às
necessidades sócio-educacionais dos alunos. Segundo dados do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística de 2007, dentre as
causas da evasão destacam-se o horário incompatível das aulas com
o do trabalho; desinteresse pelo curso; horário das aulas
incompatível com as atividades domésticas; dificuldades para
acompanhar o curso, dentre outros motivos (BRASIL, 2007).
É importante que se leve em consideração o
capital cultural trazidos pelos jovens e pelos adultos,
considerando-se as experiências de vida e a construção de um
processo comprometido com o sucesso da aprendizagem. De acordo
com Tardif (2002), os professores na escola ocupam uma posição
fundamental em relação ao conjunto dos agentes escolares. É sobre
o ombro dos professores que repousa, no fim das contas, a missão
educativa da escola.
Diante dessas colocações algumas indagações são
pertinentes: O professor das instituições federais de educação
profissional e tecnológica frente a esse novo programa – O PROEJA
está preparado para assumir uma sala de aula? Está preparado para
ser mais que um professor?
Isso posto, o propósito desde trabalho é refletir
sobre a formação e atuação do professor do PROEJA.
Para a elaboração deste trabalho a abordagem
investigativa a ser utilizada foi a pesquisa bibliográfica e se
buscou sustentação em autores que tratam da formação docente e
outros estudiosos.
2. A Educação e o Conhecimento
Um dos avanços na área da educação nos últimos
cinquenta anos foi, sem dúvida, a possibilidade de entender o
processo de aprendizagem e as variáveis que intervêm na compreensão
para melhorar o ensino. Compreender é pensar e agir com
flexibilidade em qualquer circunstância a partir do que se sabe a
respeito de algo. Ensinar a compreender requer uma nova organização
das salas de aula e das escolas para que comportem diferentes modos
de ensinar.
Uma dos aspectos importantes do ensino e
aprendizagem é a valorização dos conhecimentos históricos,
sociais e afetivos trazidos por cada aluno. Esses aspectos são
fundamentais para o desenvolvimento do indivíduo, para a sua
formação e para sua vida escolar. Por isso, é importante que os
professores percebam os conhecimentos prévios dos alunos a respeito
do que se pretende estudar porque esses conhecimentos serão
utilizados na realização das novas aprendizagens. O sucesso dessa
aprendizagem depende das relações que os alunos conseguem
estabelecer entre seus conhecimentos prévios e as novas informações
propostas.
Os conhecimentos que constituem o cerne do PROEJA
devem estar presentes na matriz curricular porque todos esses
conhecimentos possuem origem na atividade humana de transformação
da natureza e de organização social. Todos eles representam o
desenvolvimento do domínio e do controle que o ser humano
progressivamente vem adquirindo sobre a natureza, mediante a sua
práxis sócio-cultural e histórica.
Numa visão democrática e progressista a educação
escolar é entendida como parte integrante da sociedade, refletindo
as contradições da estrutura social e evidenciando compromisso na
divulgação de uma nova concepção de mundo, trabalhando em favor
das camadas menos favorecidas da população (VEIGA, 1995). O
objetivo de uma educação escolar nessa perspectiva é a construção
da cidadania mediante a preparação do educando para a vida
sociopolítica e cultural.
O governo, ao afirmar a urgência da construção de
uma escola inclusiva, cidadã, solidária e de qualidade social para
todas as crianças, adolescentes e jovens brasileiros, assume cada
vez mais o compromisso com a implementação de políticas indutoras
de transformações significativas na estrutura da escola, na
reorganização dos tempos e dos espaços escolares, nas formas de
ensinar, aprender, avaliar, organizar e desenvolver o currículo, e
trabalhar com o conhecimento, respeitando as singularidades do
desenvolvimento humano.
A finalidade da educação para jovens e adultos,
além de garantir aos indivíduos o acesso aos conhecimentos
socialmente e historicamente construídos, é promover ações
educacionais que visem a sua formação e a sua transformação como
sujeitos críticos, conscientes e participantes do meio em que vivem.
Com isso, será possível construir uma sociedade mais democrática,
justa e igualitária.
3. A Educação de Jovens e Adultos no
Brasil
A Educação de Jovens e Adultos é destinada
àqueles que não tiveram oportunidades educacionais em idade própria
ou que a tiveram de forma insuficiente, não conseguindo
alfabetizar-se ou obter os conhecimentos básicos necessários,
conforme preconiza a LDB/1997.
A Constituição de 1934 deu ênfase à educação
como direito de todos e reconheceu também o acesso à escolarização
ao aluno. Com a Constituição, na prática, a noção de direito
passa a ser de proteção e controle, sendo dever da Nação, dos
Estados e Municípios, assegurar à infância e à juventude, o
ensino público em todos os graus.
A década de 40, mesmo com ações aquém das reais
necessidades, é considerada como um período de ouro para a educação
de adultos, pois nela aconteceram inúmeras iniciativas políticas e
pedagógicas de peso. Após esse período, no final da década de 50
e meados de 60, viveu-se também no país uma efervescência no campo
da educação de adultos e da alfabetização (PAIVA, 1973).
O II Congresso Nacional de Educação de Adultos
constitui-se um marco histórico para a modalidade. Um dos convidados
deste Congresso foi Paulo Freire que mesmo não tendo ainda um
envolvimento maior com a alfabetização de adultos, apresentou e
defendeuo relatório intitulado, “a Educação de Adultos e as
populações marginais: o problema dos mocambos”, em que defendia e
propunha uma educação de adultos que estimulasse a colaboração, a
decisão, a participação, a responsabilidade social e
política.
O pensamento pedagógico de Paulo Freire, assim como
sua proposta para a alfabetização de adultos, inspirou as
principais propostas de alfabetização popular que se realizaram no
país no início dos anos 60.
Segundo Paiva (1973), esse educador construiu uma proposta de
mudança radical na educação e objetivos de ensino, partindo da
compreensão de que o aluno não apenas sabe a realidade em que vive,
mas também participa de sua transformação.
Após o golpe militar de 1964 as discussões sobre a
educação e a formação docente passam por uma longa fase de
conformismo, pois as mudanças políticas e econômicas
interferiram no processo educacional e com a entrada do período
militar a educação de adultos foi concebida através de outras
iniciativas governamentais. Pouco se alfabetizou após a implantação
do regime militar. A educação de adultos foi levada a uma
estagnação política, vazia e superficial.
Em 1968 ocorreu a criação do Movimento Brasileiro
de Alfabetização - o MOBRAL, que inicialmente tinha a missão de
coordenar as atividades de alfabetização de adultos. Esse programa
trabalhou com grandes números, mas a avaliação mais séria feita
sobre ele, comparando os resultados dos censos de 1970 e 1980,
mostrou que dez anos de atuação maciça conseguiu reduzir não mais
de 7% da taxa de analfabetismo.
Com o fim do regime militar, no início dos anos 80,
definiu-se uma nova concepção da Educação de Jovens e Adultos, a
partir da Constituição Federal de 1988. Após a promulgação da
Constituição há o reconhecimento do direito das pessoas adultas à
educação. No artigo 208 a educação passa a ser direito de todos
independente de idade e, nas disposições transitórias, são
definidas metas e recursos orçamentários para a erradicação do
analfabetismo.
Não obstante o artigo que definiu na constituição
a educação como “direito de todos”, chegamos à década de 90
com políticas públicas educacionais pouco favoráveis a este setor,
porque os programas que foram ofertados após 1988 estiveram longe de
atender a demanda populacional. Com a aprovação da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional - nº. 9394/96[5]
registrou-se a primeira referência sobre a EJA, trazendo um
significativo ganho para a educação de adultos, institucionalizando
finalmente essa modalidade de ensino.
Os alunos da EJA fazem parte de um segmento da
população representado por um universo grande de cidadãos sem
acesso e permanência escolar, mesmo assim não têm recebido a
devida atenção, especialmente no que tange ao preparo de seus
professores que, segundo Arbache (2001, p. 19), "[...]
requer do educador conhecimentos específicos no que diz respeito ao
conteúdo, a metodologia, a avaliação, ao atendimento, entre
outros, para trabalhar com essa clientela heterogênea e tão
diversificada culturalmente".
Sendo assim, construir uma proposta de EJA que
produza processos de ensino e aprendizagem que considerem quem são
os sujeitos dessa aprendizagem implica pensar sobre as possibilidades
de transformar estes espaços de aprendizagem em momentos de inclusão
educacional de jovens e adultos trabalhadores. Nessa construção, os
professores envolvidos com o projeto de EJA e PROEJA devem estar
conscientes das complexidades que envolvem um engajamento pedagógico
amplo e profundo (VALENTIM, 2008).
Preparar professores para o desenvolvimento de
competências e habilidades que facilitem os processos de
aprendizagem dos alunos da EJA é coerente com a noção de
competência, enquanto articulação de saberes que dão sentido à
prática educativa. Este estudo aponta ainda, na atual conjuntura
brasileira, para a necessidade de compreender o PROEJA como espaço
para o fortalecimento de pesquisas e estudos de políticas de
educação técnica e qualificação profissional para jovens e
adultos.
O Ensino Técnico como a educação em geral tem
sido objeto de estudo em vários fóruns de debate das políticas
públicas da educação, revelando cada vez mais a preocupação com
as práticas docentes. As leis brasileiras que versavam sobre a
educação e os níveis e modalidades de ensino antes da promulgação
da LDB nº 9394/96, tratavam o Ensino Técnico de forma parcial. A
atual LDB, portanto, constituiu um marco inicial na educação
profissional brasileira, que apenas vinculava a formação para o
trabalho e, em determinado níveis de ensino.
Preocupados com a ausência histórica de uma
política mais específica para a educação de jovens e adultos em
legislações anteriores a Lei de Diretrizes e Bases da Educação -
a LDB Nº. 9394/96 - traz em seu Artigo 37 um novo alento a essa
parcela significativa de pessoas esquecidas: “a educação de
jovens e adultos será destinada àqueles que não tiveram acesso ou
continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade
própria.”
O PROEJA é um Programa proposto pelo Governo
Federal, através do Decreto n° 5840, de 13 de julho de 2006, que
revela a decisão de se atingir jovens e adultos, com trajetórias
escolares interrompidas ou descontinuadas, nas formas integradas,
concomitante ou subsequente com o ensino profissional.
O PROEJA se estabelece e ganha significação nesse
contexto de mudança, já que é um instrumento de cidadania de toda
uma imensa parcela de brasileiros expulsos do sistema escolar[6].
Os educadores precisam estar atentos para as
demandas e potencialidades dos sujeitos do PROEJA, pois como afirma
Oliveira (1999), os currículos, programas e métodos de ensino são
formas concebidas para a Educação de Jovens e Adultos. O educador
deve estar atento às reais necessidades que o aluno traz consigo
quando chega à escola. Ao catalisar as demandas do educando do
PROEJA abrem-se oportunidades de realização de projetos que atendam
aos interesses, necessidades e demandas desses educandos”.
O perfil e a realidade sociocultural dos sujeitos do
PROEJA indicam de forma bastante concreta a necessidade de preparar
profissionais no campo da docência que tenham uma formação
específica para atuar com essa modalidade de ensino. A formação
continuada e a prática docente cotidiana precisam de um
acompanhamento em serviço que permita a reflexão constante dos
desafios que emergem das experiências educativas.
A convivência com a pluralidade, a diferença, o
exercício da alteridade, da tolerância e do respeito, no difícil
processo de aprendizagem do reconhecimento do outro, enquanto
sujeitos de direitos, tem sido uma demanda e uma conquista no campo
educacional.
3. A Formação Docente
A formação de professores vem despertando um
interesse cada vez maior entre os pesquisadores. Tanto assim, que
este aspecto educacional tão importante tem se tornado um vasto
campo de investigação na área educacional nos últimos vinte anos.
As rápidas transformações que vêm ocorrendo nas
sociedades estão aumentando as necessidades de mudanças nos
sistemas educativos, em especial, no que diz respeito à criação de
uma forte expectativa quanto aos processos de formação docente.
Essa relação estabelecida entre o progresso e as transformações
sociais, com a qualidade da educação oferecida nos sistemas
educacionais, é um dos principais argumentos para a direção das
pesquisas atualmente realizadas na área da educação.
A formação de professores vem se constituindo,
principalmente a partir da década de 90, em uma das temáticas mais
investigadas na área da Educação, orientadas, por vezes, pela
produção intelectual de cunho internacional, nas qual os
pesquisadores se fundamentam para investigar os conhecimentos
adquiridos pelo professor, sejam aqueles provenientes do exercício
profissional, sejam os de sua formação inicial ou continuada.
As necessidades atuais do sistema educacional de
efetuar mudanças na formação docente se devem não apenas às
rápidas e abrangentes mudanças das sociedades, mas à crise da
identidade profissional docente, reforçada pela baixa competência
verificada em sua formação (GAUTHIER, 1998). Nesse sentido, rever,
melhorar, aprimorar a formação inicial docente é um dos caminhos
para tornar mais eficaz o processo educacional que vem sendo
desenvolvido.
Para Gauthier (1998), O professor tem conhecimentos
armazenados que são provenientes: da formação inicial e
continuada. Portanto, saberes com os quais ele pode se apoiar:
saberes curriculares, da tradição, etc. O trabalho docente é
formado por um reservatório de conhecimentos próprios do professor.
O mesmo autor destaca, ainda, um tipo de saber do qual esse
profissional não pode dispensar: saberes disciplinares, saberes
experiências, saber da ação pedagógica. Os saberes providos da
prática ganharam força e valorização. Pesquisadores e professores
começaram a perceber a importância tanto de sua autoformação,
pela reflexão de suas práticas, quanto da necessidade de
reelaborarem seus saberes acadêmicos iniciais.
Na visão tradicional sobre a formação de
professor, o professor é especializado no conhecimento específico
da disciplina sob sua responsabilidade, sendo sua prática pouco
valorizada. Hoje, o professor não pode ser mais compreendido como um
mero transmissor de conhecimentos que exerce sua prática pedagógica
de modo repetitivo, que traduz conhecimentos específicos e
fragmentados.
Para Tardif (2007), os professores possuem saberes
específicos que são mobilizados, utilizados e produzidos por eles
no âmbito de suas tarefas cotidianas. Essas experiências
possibilitam-lhes construir conjuntos de saberes sobre cada um, os
quais orientam suas práticas de sala de aula com alunos do PROEJA.
Diferentemente das outras modalidades de ensino, a
EJA não vem tendo uma formação acadêmica específica no que se
reporta ao Ensino Médio. Não existe nas licenciaturas a preocupação
com a ênfase à EJA ou às disciplinas que contemplem as discussões
sobre o ensino e a aprendizagem do aluno jovem ou adulto. Se o
professor não partir da realidade de uma especificidade diferenciada
como o PROEJA, ele não se constituirá em um profissional que detém
competências e saberes necessários às praticas fundamentais de
jovens e adultos.
Compreende-se que ensinar adultos exige dos
professores o domínio de novos saberes docentes ou saberes
profissionais. O trabalho do professor deve estar em constante
reflexão, por isso a necessidade da formação em serviço, pois
parte das necessidades dos docentes e das situações vivenciadas no
dia-a-dia, o que traduz a importância em estar preparado
para realmente ser um educador, no sentido mais completo da palavra,
somente quem escuta paciente e criticamente o outro, fala com ele,
mesmo que, em certas ocasiões precise falar a ele: o que jamais faz
quem aprende a escutar para poder falar impositivamente. Ate quando,
necessariamente, fala contra posições ou concepções do outro,
fala com ele com objeto de seu discurso (FREIRE, 1988).
Assim, percebe-se, de acordo com Freire (1988) que
não é suficiente apenas uma fundamentação teórica para a mudança
de postura diante de práticas conservadoras. Portanto, é
indispensável na formação docente uma busca constante não apenas
do saber, mas também do fazer, estando cada vez mais inserida a
ideia da ação-reflexão no dia-a-dia do professor, para que este
não se acomode no seu trabalho diário e tenha como objetivo um
saber mais e um fazer melhor na prática de sala de aula.
4. Considerações Finais
O PROEJA é um programa que trará grandes
contribuições para a educação brasileira, considerando-se o
déficit educacional histórico de grande parcela da
sociedade brasileira, contribuindo assim, na formação de jovens e
adultos que não concluíram em idade regular, sua escolarização.
O professor é um dos elementos indispensáveis no
processo de ensino e de aprendizagem, por isso necessita estar
preparado para pensar e enfrentar as situações que envolvem sua
profissão. Assim, a busca por formação continuada deve ser
inseparável da prática docente. Há de se considerar os professores
como profissionais que constroem, adquirem e desenvolvem múltiplos
saberes a partir de sua prática com vistas a favorecer a competência
profissional.
Importa lembrar que o PROEJA é um programa novo,
cujo sistema organizacional e pedagógico encontra-se ainda em fase
inicial e muitos aspectos necessitam ser pensados, construídos de
forma diferente, pois os alunos são diferentes.
Assim, percebe-se que a complexidade de ser
professor não está somente em ser professor da Educação de Jovens
e Adultos, mas sim, ser profissional da educação, ter a
sensibilidade de perceber que o ser humano está inserido em um mundo
complexo, onde a cultura, a razão, o afeto e a vida em sociedade são
ferramentas fundamentais para a condução de escolhas positivas
frente aos diversos caminhos da existência. Ser professor e ser
pessoa exige saberes muito mais amplos que o saber ensinar.
Os jovens e adultos do PROEJA exigem do professor,
além dos saberes disciplinares, práticas educativas que aproveitam
a sua bagagem cultural e a experiência acumulada. O ideal é que
essa modalidade responda às suas necessidades, estabelecendo uma
relação entre os conteúdos trabalhados e o uso que farão deles,
posteriormente.
Ao concluir este trabalho, diante das evidências de
evasão de alunos do PROEJA, da preocupação do governo federal e
das instituições federais em criar estratégias para minimizar a
questão da evasão, propiciando cursos de formação continuada aos
docentes e outras estratégias de permanência de alunos, percebe-se
que há muito a avançar, principalmente no tocante à formação
docente.
Professores despreparados para lidar com esse novo
universo da EJA, certamente deixarão muito a desejar e,
inconscientemente, provocarão prováveis e inevitáveis traumas
educacionais a esses jovens e adultos que, mais uma vez, acreditaram
nesse novo programa, mas, se veem novamente forçados a se retirarem
do mundo escolar. Mundo este tão almejado por aqueles que sonham em
se tornarem cidadãos livres e autônomos.
Por isso, ser professor do PROEJA é ser muito mais
que professor!
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASARBACHE, Ana Paula Bastos. A formação do educador de pessoas jovens e adultas numa perspectiva multicultural crítica. Dissertação de Mestrado. Rio de Janeiro: Papel Virtual Editora, 2001.
BRASIL. Constituição Federal de 16 de julho de 1934.
________. Constituição Federal de 05 de novembro de 1988.
________.Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 20 de dezembro de 1996.
________. Documento Base do PROEJA – Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos. Brasília, agosto de 2007.
BRASIL. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira. Sinopse Estatística da Educação Básica 2007. Disponível em: <http://www.inep.gov.br> Acesso em 14 Abr de 2012.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários á prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1998.
GADOTTI, Moacir. Perspectivas atuais da educação. Porto Alegre: Ed. Artes Médicas, 2000.
GAUTHIER, C. Por uma teoria da pedagogia: pesquisas contemporâneas sobre os saberes docentes. Ijuí: UNIJUÍ, 1991.
OLIVERIA, Marta Khol. Jovens e adultos como sujeitos de conhecimento e aprendizagem. Trabalho encomendado pelo GT. Educação de pessoas jovens e adultas, Apresentado na 22ª Reunião. Anual da ANPED. 26 a 30/09/99. Caxambu.
PAIVA, Jane (org.). Educação de Jovens e Adultos. RJ: UERJ, 2002.
TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007.
VALENTIM, S. S. Virtuosidade e diversidade Cultural na formação de professores para a Educação Profissional Integrada á EJA (PROEJA). Mimeografado, 2008.
VEIGA, Ilma P. A. (org.). Projeto Político Pedagógico da Escola: uma construção possível. Coleção Magistério, Formação e trabalho pedagógico. Campinas: Papirus, 1995.
[1]Nadna Palmiere de Araujo licenciada em Pedagogia pela Universidade do Estado de Mato Grosso, Especialista em Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental com ênfase em Alfabetização. E-mail: nadnapalmiere_@hotmail.com
[2] Valdeir Dias Martins, graduado em Licenciatura Plena em Pedagogia pela Universidade do Estado de Mato Grosso. Em andamento em Pós-Graduação em Gestão municipal pela UAB UNEMAT. E-mail: val.deirdias@hotmail.com
[3] Valéria Ribeiro de Souza, licenciada em Pedagogia pela Universidades do Estado de Mato Grosso, especialista em Psicopedagogia. E-mail: valeriaribeirod@gmail.com .
[4] PROEJA - Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos – PROEJA, implantado através Decreto nº 5.478/2005 e revogado pelo Decreto nº 5.840 – Documento Base.
[5] Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - nº. 9394/96, Título III, art. 4º e 5º.
[6] Documento Base do PROEJA, 2006.
www.cefaprocaceres.com.br Acesso em 19/07/2013
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